terça-feira, 5 de novembro de 2013

Jornalismo na internet: Agilidade versus credibilidade


Por Horácio Busolin Junior



O jornalismo online ainda sofre muito com qualidade de texto e análise”- Suzana Singer, ombudsman da Folha de S. Paulo


A plataforma online transformou a maneira de informar e definiu os novos rumos da difusão de notícias. Na internet, o furo jornalístico ganhou mais velocidade e os leitores podem acompanhar os fatos em tempo real. Além disso, outras características mais evidentes desse tipo de jornalismo são a maior interatividade do leitor, pois esse pode interagir com outras pessoas ou até com o próprio jornal.
Há também uma customização ou personalização do conteúdo com o leitor escolhendo o que quer ler na hora que quiser. A hipertextualidade aumenta a variedade de possibilidades de se ver a notícias com o texto acompanhado de vídeos, sons e imagens linkadas a outros sites.
Porém, por ser ágil e instantâneo, o jornalismo online ainda sofre com qualidade de texto. Em entrevista concedida ao Mídiavisão a ombudsman da Folha de S. Paulo Suzana Singer reforçou essa opinião e disse que o jornalismo online ainda tem muito que caminhar para melhorar.
“O jornalismo online tem muitas vantagens. É muito mais rápido e direto. Porém, o online ainda sofre muito com qualidade de texto e análise. O jornalismo em geral vive num momento muito complicado, pois a imprensa precisa investir não só na TV, no rádio e em outro meio, mas também na web. E hoje você fazer investimentos em mais de um meio, em um momento que economicamente não é dos melhores, é difícil”, apontou Suzana.


Para a ombudsman Suzana Singer, o jornalismo online ainda sofre com qualidade de texto e análise. Foto: Fernando Carvalho / MídiaVisão

A necessidade de melhorias na plataforma online da Folha de S. Paulo já era criticada pelos leitores desde o começo do serviço Folha online em 1999. Mudanças e adaptações no site foram críticas do ombudsman Renata Lo Prete em coluna publicada em 21 de novembro de 1999.
Na ocasião, ela dizia que pela possibilidade de atualização contínua, a tendência era que o jornalismo digital superasse o impresso. No entanto, Lo Prete afirmava que desde 1999, a versão eletrônica da Folha ainda era uma versão empobrecida do impresso.
É claro que se você quiser saber mais a finco sobre uma notícia você terá que recorrer ao impresso, com detalhamento melhor da notícia trazendo análises e críticas mais elaboradas. No entanto, uma das vantagens é que o jornalismo digital é mais democrático, pois é mais participativo e interativo, abrindo espaço para vários pontos de vistas provindos de infinitas fontes, que o leitor ou internauta pode acessar a qualquer instante.
A internet proporcionou também a proliferação de vozes e opiniões diversas e a produção intensa do jornalismo colaborativo com fotos e vídeos publicados em blogs de jornalistas independentes. Esse novo fenômeno alterou a maneira do fazer jornalístico. Suzana Singer relatou ao Mídia Visão que os jornalistas da Folha e da imprensa em geral precisam aproveitar esse novo conteúdo como fonte para as matérias.
“Então é preciso criar formas inteligentes de aproveitar essas oportunidades. A gente viu isso na Primavera Árabe, a gente viu isso no momento que o Bin Laden foi preso, e a primeira pessoa que deu a noticia foi no Twitter. Isso esta na mão de todo mundo, só que ainda é preciso descobrir como aproveitar isso de fato e a imprensa tradicional tem que aproveitar isso melhor. Todo mundo tem uma câmera dentro do seu celular, todo mundo sabe filmar, todo mundo sabe essas coisas, você tem que aprender filtrar e trazer isso como vantagem para o meio tradicional”, finalizou Singer.

Conversando com os leitores
O panorama geral da imprensa online nos dias atuais parece não ter mudado. O Midia Visão conversou com leitores de notícias pela internet que apontaram as deficiências e qualidades do jornalismo online. Daniel Brina, estudante de Física da USP (Universidade de São Paulo), cita que o problema do jornalismo na internet é a credibilidade da informação.
“Às vezes tenho receio de confiar totalmente em alguma notícia. Por isso, sempre busco outras fontes pra ter certeza da verdade da informação. Não costumo muito me informar por blogs de notícia. Se tem algo que acho estranho, sempre confirmo a veracidade no site do Terra”, disse Brina.
A opinião do estudante reitera que os meios de comunicação ainda são detentores de credibilidade e servem de oráculo da verdade. Em entrevista para o Mídiavisão o ex-ombudsman Mário Vitor Santos revela que a credibilidade ainda é a única arma que meios tradicionais possuem para combater a desinformação e a multiplicação dos blogs de notícia. “A única coisa que pode sobrar pros veículos, a médio prazo, é a credibilidade. Porque eles serão ultrapassados pela tecnologia, mas essa tecnologia sempre é, e vai poder ser questionada”, pondera o ex-ombudsman.
No entanto, mesmo os portais ditos os “oráculos da verdade” também estão sujeitos a erros. O músico André Verona, que também usa a internet para se informar, diz que os sites de notícia ainda pecam muito pela má qualidade dos textos. “Na maioria das vezes os textos são bons. Porém, os erros de português e de digitação ainda persistem. Exemplo é o G1 – O portal de Notícias da Globo que passa dos limites!”, reclama Verona.
Além disso, o músico disse também que o grande problema do jornalismo online é o excesso de sensacionalismo. “Acho sensacionalista e duvidoso. Tanto, que tenho até dificuldades para confiar no que leio. Tenho sempre que buscar diversas fontes”, completa.
Já o empresário Eduardo Bueno destaca pontos positivos para o jornalismo online. “Eu gosto do jornalismo produzido na internet. O acesso a informação é bem mais rápido e podemos buscar a mesma informação em vários sites diferentes para poder entender melhor”, diz Bueno.
No entanto, ele aponta como pontos negativos, o excesso de propagandas dos portais. “Tem sites em que você precisa ficar procurando as notícias no meio de uma infinidade de propagandas. Isso acaba irritando um pouco”, contesta. Além disso, ele reitera que os sites de notícia são inconstantes e primam por vezes dar mais ênfase ao entretenimento do que ao jornalismo.

Blogs versus meios tradicionais
O leitores entrevistados pelo Mídia Visão também disseram que preferem os meios tradicionais para se informar do que os blogs noticiosos. Daniel Brina prefere se informar pelos portais convencionais como os sites G1 e UOL. Porém, quando o assunto é humor, ele prefere os blogs do gênero.
O empresário Eduardo Bueno, também corrobora desta opinião. “Sempre fico nos meios tradicionais, uso blogs só quando alguma coisa me interessa mais. Ultimamente tenho buscado mais informações sobre meu trabalho em blogs de negócios e economia”, disse Bueno.
O jornalista e designer gráfico João Mauro de Assis, mais conhecido como Johnny Mau, também procura a veracidade dos fatos em meios tradicionais como o Último Segundo, do portal IG. O jornalista aponta que a maioria dos blogs não tem qualidade e que quando procura esse meio para se informar sobre música ou arte, verifica antes o nível de conhecimento de quem escreve os posts.
“Muitos blogueiros acabam criando os seus apenas para ter uma porta de entrada nos espaços VIPs de eventos, como o SPFW, Salão Duas Rodas, etc. Acabam falando de um assunto que não domina. Quando resolvo seguir um blog, procuro saber qual o nível de conhecimento de quem o escreve. Já li muito material com erros crassos e sem nenhum tipo de embasamento ou pesquisa”, disse o jornalista.
No entanto, há quem prefira se informar utilizando a mídia alternativa produzida pelos blogs independentes. O músico Augusto Meneghin é cético em relação aos meios de comunicação tradicionais, que para ele manipulam a opinião pública.
“Penso que a mídia tradicional reproduz um discurso alienante, feito para manter as pessoas dentro dos padrões do capitalismo, ou seja: ela defende os opressores, a polícia, incriminando trabalhadores e as minorias. Somente isso já faz com que qualquer notícia vinda desses meios me soe como pura manipulação”, afirma.


Mário Vitor Santos, ex-ombudsman da Folha de S. Paulo, afirma que os meios de comunicação tradicional ainda exercem influência sobre a mídia independente. Foto: Fernando Carvalho / MídiaVisão

Manipulação ou não, para o ex-ombudsman Mário Vitor Santos os meios de comunicação tradicionais ainda são responsáveis pelo grosso da apuração de notícias e pautam boa parte dos assuntos discutidos em blogs e nas redes sociais.  
“A ideia de que as redes sociais constituem um veículo para informação absolutamente pura e desligada dos meios tradicionais parece que não se confirma. As redes sociais dependem muito daquilo que é apurado pelos veículos profissionais, que investem grandes quantias no sentido da apuração da informação, pelos canais tradicionais de circulação da informação”, pondera o ex-ombudsman




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